terça-feira, dezembro 26, 2006

Inês Castel-Branco:"Achava-me gorda, feia e com celulite"


A actriz à custa dos seus ímpetos. Saiu de casa muito cedo e mais cedo ainda começou a ganhar dinheiro. A ingenuidade própria de quem começa a trabalhar ainda adolescente trouxe-lhe alguns amargos de boca e, principalmente, inseguranças, que com os anos tem vindo a ultrapassar. Por isso, aos 24 anos já sabe, pelo menos, que quer divertir-se e “fazer bem” o seu trabalho. Foi na produção para a agenda de 2007 da Elite Portugal, onde vestiu a pele de uma boneca, que a CARAS falou com Inês Castel-Branco.


– Começou a trabalhar aos 15 anos. O que é que já conquistou?Inês Castel-Branco – Alguma maturidade e segurança. A nível de moda, acho que só a comecei a ganhar há um ano. Andei anos a ouvir que tinha de emagrecer, que não me podia vestir assim, que tinha de usar saltos altos. Achava-me gorda, feia, com celulite... Nunca me senti à vontade a fotografar, tinha os dentes afastados e ficava com a boca muito tensa, achava que não tinha nascido para isto. Era o cúmulo da falta de auto-estima, as pessoas até achavam que era género, porque não fazia muito sentido. E quando não estava a trabalhar, era um bichinho do mato, com medo de falar e de olhar, com muita insegurança. Agora é diferente, aprendi a viver comigo. E isso deve-se ao facto da minha vida pessoal ser estável e fazer todo o sentido. As pessoas que estão à minha volta também conseguiram que eu desse mais valor a mim própria.


– Deve ter sido terrível, tão nova, ter sempre alguém a fazê-la sentir-se mal…– Sim, mas o facto de não ter sido uma boa manequim foi o que levou a minha booker a inscrever-me numa audição para um curso de representação. E se não fosse isso, eu não estaria a fazer o que faço hoje e não seria tão feliz.


– Foi nessa audição que se descobriu?– Acho que saí dessa audição a pensar: “Afinal posso tirar prazer deste mundo.” Porque estava a sentir-me infelicíssima a fazer fotografias de moda. Nunca me senti realizada ou valorizada. Quando fui à audição estava nervosíssima, não me correu nada bem a parte do texto, mas depois pediram-me para improvisar, e, como estava muito nervosa, aproveitei-me disso e fiz de louca. Foram quatro minutos, mas saí de lá a pensar que estava muito perto daquilo que me ia fazer feliz. Consegui passar na audição e fazer o curso que mudou a minha vida. Quando compunha uma personagem, revelava-me.


– Nunca tinha pensado na representação?– Nunca. Embora não seja muito ambiciosa, sou muito aventureira. Quando me dizem: “Vais a uma audição para o Teatro Aberto em que tens de cantar, dançar, fazer um monólogo e representar”, eu não tenho currículo, mas vou.


– Disse que a sua vida pessoal está mais estável. Teve de mudar algo para que isso acontecesse?– Tive uma conduta um bocadinho precoce. Comecei a ganhar dinheiro aos 17 anos, aos 18 fui viver sozinha e, depois, com um namorado, o que, se calhar, foi cedo demais. Aprendi tudo à minha custa, uma pessoa não nasce ensinada. E foi assim em tudo, no trabalho, na forma como geria o dinheiro, as amizades de infância e as novas, as festas. Como alguém que tem 15, 16, 17 anos…


– Foi por essa razão que, a certa altura, se tornou mais reservada?– Quando comecei a ser conhecida não percebi a armadilha que era, aos 16 anos, dizer o que me apetecia numa entrevista. E isso envolveu o meu namorado, o único que assumi publicamente e que também era uma figura pública – o Joaquim –, e a minha mãe. Por isso hoje não quero que o público conheça o lado íntimo da Inês. Não quero que saibam que pijama visto ou de que raça são os meus cães.



– Às vezes, quanto mais se foge…– É claro que dá para levantar um bocadinho o véu, porque as pessoas gostam sempre de saber um bocadinho mais do que vêem na televisão, mas não é preciso ter um discurso muito pessoal e privado.


– Mas toda a gente sabe que tem um namorado…– Pois, na ModaLisboa foi um ‘filme’! Mas ele não quer ser conhecido, o que é tão raro neste país, que só posso é respeitá-lo por isso. Ao princípio era estranho, mas hoje é das maiores qualidades da nossa relação e da forma como lidamos com a minha condição de figura pública.

Nenhum comentário: